Olhar Conceito

Quinta-feira, 18 de abril de 2024

Notícias | Comportamento

MATANDO A SAUDADE

Venezuelana comanda programa ‘Noches Calientes’ em rádio de Cuiabá

Foto: Rogério Florentino/Olhar Direto

Venezuelana comanda programa ‘Noches Calientes’ em rádio de Cuiabá
Todos os dias, às 18 horas, cuiabanos de chapa e cruz e paus rodados vindos de todos os lugares do mundo podem sintonizar seus rádios na 105,9 para conhecer novas sonoridades ou matar as saudades de casa. Isso porque, há cerca de dois meses, a venezuelana Rossbeli Margarida, 45, comanda o ‘Noches Calientes’ na rádio comunitária Metrópole FM, um programa com músicas de toda a América Latina – ou até mesmo de além-mar.

Leia também:
Colombiano viajante expõe obras que misturam pinturas e galhos de árvores no Cine Teatro

Rossbeli vive no Brasil há dois anos. Saiu da Venezuela porque não conseguia mais ter acesso a um remédio essencial para seu problema cardíaco. “Eu cheguei a ir para Roraima por dois meses... ia e voltava para pegar medicamento e comida. Chegou um momento em que meu filho falou para eu ficar no Brasil”, contou ao Olhar Conceito. O filho dela, que também vivia em Roraima, hoje mora em Santa Catarina.

Após certo tempo em Boa Vista, ela e o esposo participaram do primeiro processo de interiorização para Mato Grosso, e chegaram em Cuiabá em abril de 2018. Seu marido foi empregado em um colégio, fazendo serviços gerais, e ela foi convidada pelo dono da rádio comunitária – senhor Munhoz – para fazer o programa. Arriscou, já que não tinha nenhuma experiência na área - Rossbeli é administradora e oficial de carreira militar.

Deu certo. “O Noches Calientes tem músicas da América Latina toda”, explica. “O programa é dirigido para todos os imigrantes, então incluímos músicas em francês e criolo, porque há muitos imigrantes haitianos”.

Segundo a locutora, repertório vem, principalmente, dos pedidos. “Pedem da Costa Rica, Peru, Colômbia, Panamá, Venezuela, Haiti... fazem pedidos de Cuiabá para dedicar a alguém no Haiti, na Venezuela, é um retorno bastante forte que temos dos imigrantes. E, além disso, os brasileiros estão ligando a rádio para escutar música latina. Os jovens gostam muito de reggaeton, e da salsa gostam mais as pessoas da minha idade. Eu acredito que estou chegando mais longe do que pensava... pensava que seria para os imigrantes, para matar um pouco da saudade, sentir-se um pouco mais em casa, para dedicar uma canção a alguém que está além da fronteira do Brasil... mas vai mais longe. Os brasileiros estão muito receptivos com meu programa, e dou graças a Deus por isso. Algum dia vou ter um bom patrocínio”, comemora.

Orgulho venezuelano

Rossbeli não pensa em voltar para a Venezuela, principalmente porque seus filhos não estão mais no país – dois moram em Costa Rica, e um em Santa Catarina, no Brasil. No entanto, acredita que há certo exagero da mídia em relação à situação em que se encontra sua cidade natal. Seus familiares, por exemplo, continuam vivendo lá, e não têm pretensões de sair.

“A situação do país vai mudar. A Venezuela é um país que nunca migrou, que está acostumada a lutar. Lutou por sua independência, lutou contra a colônia espanhola, lutou para sair de uma ditadura, e lutou por uma democracia participativa”, argumenta.
“Se eu quiser muita publicidade, tenho que sair na rua e falar mal da Venezuela. Não. É meu país. E o que me ensinaram primeiro sobre meu país foi amá-lo. E eu tenho a firme convicção de que vamos seguir em frente”, completa.

Para a radialista, o exagero da mídia causa um olhar turvo dos estrangeiros sobre o que realmente acontece – e uma ideia errônea de que fora da Venezuela é tudo perfeito. “Eu não sabia, por exemplo, que no Brasil havia gente na rua. Eu acreditava que só os Venezuelanos viviam na praça Simón Bolívar de Boa Vista. Cheguei a Cuiabá e vi esse Morro [da Luz], e vi o centro... e me impactei, porque há gente na rua, e todo mundo só fala da Venezuela. Então também há fome, há desemprego, há feminicídios altíssimos...”, lamenta. Sobre a situação da terra natal, ela resume citando um famoso provérbio venezuelano: "No hay mal que dure cien años, ni cuerpo que lo resista".

Serviço

Noches Calientes
Todos os dias – das 18h às 19h
Rádio Metrópole FM – 105,09 na região central; ou online pelo aplicativo; INSTAGRAMFACEBOOK
Entre em nossa comunidade do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui

Comentários no Facebook

Sitevip Internet