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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Cuiabá de todos os santos

Lavagem da escadaria da Igreja de São Benedito representa tolerância e resistência; Veja Fotos

Foto: Rogério Florentino Pereira/Olhar Direto/Reprodução

Lavagem da escadaria da Igreja de São Benedito representa tolerância e resistência; Veja Fotos
Enquanto a cidade ainda dormia, o sol já intenso das 8h e o anil do céu limpo se misturam com os detalhes azuis das roupas das mães de santo. Às margens do córrego da Prainha, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, construída por volta de 1725 pelas mãos de escravos, recebeu pela segunda vez a lavagem das escadarias por remanescentes de quilombolas e representantes de religiões afro-brasileiras, na manhã deste sábado (23).

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Tambores e a canção “Com Seu Exército Branco, Ele lutou por mim, Na beira da praia Ogum Sete Ondas, Ogum Beira-Mar”, ecoavam por todo o Centro Histórico. Umbandistas, candomblecistas, espíritas e católicos seguiam todos unidos pela caminhada no entorno da Igreja, em um ritual que clama por tolerância, paz e humildade.



A presença ilustre do centenário quilombola Antônio Benedito da Conceição, o Antônio Mulato, somou o cortejo. “Uma salva de palmas para seu Antônio Mulato, 113 anos, um ícone da resistência!”, pedia o narrador em cima do carro de som. De cadeira de rodas, o mais velho dos mato-grossenses acompanhou toda a caminhada, sendo sempre o centro das atenções, como a representação viva de um resgate de ancestralidade.

As mulheres que puxam o tradicional ritual, carregando as “quartinhas”, os vasos que trazem flores e água de cheiro. A água, símbolo de purificação, é colhida das chuvas e de cachoeiras, e levam alfazema.



“Para nós da umbanda, acima das águas só Deus. Por isso nós temos que tratar com respeito, tudo com muito amor e carinho. A água que foi lavada aqui, nós captamos o ano inteiro, guardada o ano inteiro e energizada pra poder fazer esse ato esse ano”, explica a presidente da comissão, mãe Onilce Santana.

Historicamente marginalizadas e ainda refém de preconceitos, as religiões afro-brasileiras retomam o protagonismo nesse momento, marcando um encontro de raízes. Com vassouras, a água das escadas escorre uma por uma, purificando e levando embora toda a tristeza do passado que marca aquele local.  



“A história de lavar as escadarias de São Benedito é que porque aqui, no passado, teve muito sofrimento. Aqui foi onde os negros derramaram sangue e suor, para nos dar liberdade. E hoje, nós estamos fazendo esse trabalho da lavagem para poder lavar essa angústia, esse sofrimento. A nossa cultura é de paz, amor e prosperidade”, explica mãe Onilce, no alto de uma Cuiabá de todos os santos.
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