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Sexta-feira, 29 de março de 2024

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Presente e passado

História de Cuiabá antiga resiste pelo olhar nostálgico do pintor Walmir Leite

Foto: Rogério Florentino Pereira/Olhar Direto

História de Cuiabá antiga resiste pelo olhar nostálgico do pintor Walmir Leite
Perdida no labirinto das ruas do bairro Jardim Califórnia, uma Cuiabá histórica e secular sobrevive. Nas paredes do restaurante Brasileto, estão as imagens pictóricas de uma cidade que já se foi, mas que agora está para sempre afixada nas telas de Walmir Leite. Um sentimento de nostalgia, que resiste há mais de 30 anos pelas mãos do pintor.



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Com estilo acadêmico e que lembra o expressionismo, as pinturas que são feitas com espátulas remetem ao ‘tempo de outrora’, que levam os mais novos a um verdadeiro jogo de adivinhação, tentando enxergar que local é aquele atualmente. Muitos, inclusive, nem existem mais e foram esquecidos para dar lugar a novas construções.

Narrando um passado por volta de 1800, Walmir não só busca referências para as pinturas em livros de história, como cultua sua própria história. “Eu entrei para esse segmento de retratar Cuiabá antiga, porque eu vivenciei Cuiabá. Eu vinha conversando com meus amigos agora, a mudança que nós vimos de Cuiabá metrópole, dos anos 70 pra cá”.

Muito da história de Cuiabá escapou dos livros e de fotografias, mas permanece ainda viva na memória dos mais velhos. Walmir, por exemplo, chegou a conhecer a icônica figura Maria Taquara. Ele morava na rua Antônio Maria, e às vezes a via pegando roupa com os vizinhos.

“Tenho uma tela que pintei na Antônio Maria, na quadra em que eu morei. Lá morava um rapaz, o ‘Milton Cabecinha’, e quase em frente a casa dele morava o Ernerto Zaramela. E tinha a Maria Taquara. Ela pegava roupa pra lavar do seu Antônio Matos, o contador. E ela, com aquela roupa, de calça bem comprida, morena. Pintei nessa tale a Maria Taquara, descendo a rua com a trouxa na cabeça”, relembra.

Detalhes únicos do dia a dia daquela época também estão nas telas de Walmir. Seja o angico vermelho na carroça do boi, porque era a melhor lenha, aos meninos brincando de “equilibrar” na ponte secular do córrego da Prainha, construída no século 19 e destruída em 1968. Detalhes ao olho nu daqueles que vivenciaram e podem recontar o que viram.

Também são fixados no cotidiano da cuiabania antiga o padeiro, o verdureiro, o leiteiro a cavalo, o vendedor de bolos e o lenhateiro. Os meninos e suas brincadeiras, como pipa e bolas de gude. “Tem os garotos empinando a pipa, os cavalos no meio da rua, porque era coisa comum. Por que é que os governantes na época cercaram os jardins na Praça Alencastro? Por causa dos semoventes, os cavalos iam pastar ali”, conta.

Além dos livros de história, a principal fonte de Walmir são fotografias antigas. O maior acervo das fotos vem de um álbum gráfico de Mato Grosso, editado na Alemanha. Ele coleciona as fotos em preto e branco, e por meio da linha tênue entre o real e o imaginário, Walmir acrescenta pormenores que fugiram no momento em que a foto foi batida.
“Pego uma fotografia, que eu chamo de ‘morta’, porque é preto e branco e não tem nada que produza movimento. É curioso quando digo movimento, e que até hoje não consegui entender, é que os fotógrafos que batiam as fotos de Cuiabá antiga, ainda que aparecia o trilho, não aparecia o bonde”, relata. Algumas também não mostram gente passando na rua. Por isso as figuras do leiteiro e dos meninos na tela.

Por enquanto, a Cuiabá onírica de Walmir permanece no restaurante do filho. Para a cidade que está a beira dos tricentenário, o pintor empresta seu olhar afetivo em 70 telas, até 8 de abril.
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