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Sexta-feira, 29 de março de 2024

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Ícone regional, Mestre Bolinha conta um pouco da sua trajetória: "a música vem desde que eu nasci"

Foto: Rogério Florentino Pereira/Olhar Direto

Ícone regional, Mestre Bolinha conta um pouco da sua trajetória:
“João Batista Jesus da Silva é ou não o nome mais lindo do mundo?”. Quem pergunta é o próprio dono, mais conhecido como Mestre Bolinha, que regeu a banda da então Escola Técnica Federal de Mato Grosso (ETFMT, e atual IFMT) por mais de 35 anos, além de fazer parte dos musicos que resgataram e popularizaram o Rasqueado Cuiabano.

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Cuiabano simples e muito acolhedor, Bolinha e sua esposa e companheira, Santina Silva, recebeu a equipe do Olhar Direto para contar um pouco da história dessa memória viva da música regional matogrossense. Filho de Mestre Albertino e Dona Enedina Fernandes da Silva, Bolinha já nasceu com o dom musical. Seu nome foi uma escolha do pai, que resolveu homenagear o santo do dia em que ele nasceu, 23 de junho, dia de São João Batista.



“Acho que a música vem desde quando eu nasci, segundo mamãe, às 8h da noite, na festa de Dona Maria, era o peixinho da festa, que estava pulando na barriga dela.” A música teve grande influência na sua família, principalmente por causa do pai, que sempre ensaiava em casa, com a banda Às de Ouro. “Na minha família, as mulheres são professoras e os homens somos tudo da parte musical. Um toca pistão, eu toco saxofone, outro toca contrabaixo, e outro tocava pancadaria”, afirma Bolinha, que já sentia a música dentro de si desde os 5 anos, quando o pai o levava para os ensaios e o menino João se emocionava com as músicas que a banda do exército tocava, a qual seu pai fazia parte.

Mestre Albertino, pai de Bolinha, de quem ele tem muito orgulho, foi maestro da banda da Escola Técnica por muito anos, e depois que saiu, deixou um amigo regendo, mas este não conseguiu desenvolver a banda, tinha só nove integrantes naquele momento. Então o diretor da ETFMT, que hoje dá nome ao atual campus do IFMT, o coronel Octayde Jorge da Silva, resolveu trocar de maestro.

Então o coronel Octayde convidou Bolinha e seu irmão Juca para assumirem a função. “Filho de peixe, peixinho é, né? Seu pai é um grande músico, eu vejo você e seu irmão tocarem, também são grandes musicos. Além de serem serem filhos do Mestre Albertino, porque iríamos chamar alguém de fora, quando vocês tem competência para fazer um banda aqui?”. E com a ajuda do Gilberto Nasser, professor de teatro que estava presente no momento do convite, no dia seguinte a banda tinha 40 novos integrantes.

Ele transformou a banda, que no auge tinha 65 integrantes, e fazia coreografias durante suas apresentações. “O coronel disse que era o melhor maestro, e me homenageou com um quadro. Fui maestro por 35 anos na Escola Técnica”, relembra ele.

Na sala de sua casa estão expostas lembranças da sua trajetória, da ETFMT, quando foi elogiado pelo pai, como um dos melhores musicos do Brasil, e o troféu de primeiro lugar que ganhou no primeiro festival de rasqueado de Mato Grosso. Essas lembranças dividem espaço com sua religiosidade, atrás do sofá tem uma imagem de Santa Cecília, protetora dos músicos, a quem ele é muito devoto.

A escolha pelo saxofone foi influência do pai. “Escolhi o saxofone porque é o que o pessoal gosta de escutar, eu queria mesmo é ser trombonista de vara, mas ai papai falou que não. Aí se descumprisse ele”, conta.

Ele relembra que antigamente o rasqueado não fazia muito sucesso. “O rasqueado dentro de Cuiabá era só as pessoas chinfrim, pessoas pobres, que ouviam, não tinha pessoas que se dedicavam a isso”. E sente saudades da variedade musical que a cidade tinha. “Às vezes eu sinto saudade do maxixe, rasqueado, baião, tinha até competição de tango em Cuiabá. Hoje você vê mais é sertanejo.”


 
Foi na antiga casa noturna Panacéia que o Rasqueado Cuiabano se popularizou. Ele é o responsável por juntar a dupla Henrique & Claudinho, que gravou o primeiro LP de rasqueado. O dono da Panacéia ao perceber o sucesso do ritmo, convidou também Bolinha pra gravar o primeiro CD da Capital, logo depois do LP da dupla.

Só depois outros cantores começaram a cantar e gravar o ritmo. “Logo o governador (Dante de Oliveira) interessou e começou a fazer shows na praça, cantávamos para mais de 5 mil pessoas. Mas agora o ritmo está desaparecendo de novo”. Apesar de ainda pedirem sempre para tocar rasqueado, ele revela que nem todos apreciam essa tradição cuiabana, e que até alguns cantores têm vergonha do ritmo. Quando perguntado como ele se sente por ser parte da história da música mato-grossense e memória viva dela, ele abre aquele sorriso e se diz muito honrado disso.

Bolinha do iê-iê-iê

Na década de 60, Bolinha fazia parte da banda Lenha, Brasa e Bronca. Os integrantes eram considerados os Reis do Iê-iê-iê, que tocavam Beatles e músicas da Jovem Guarda. Foi em uma viagem a Campo Grande, com essa banda, que surgiu  o famoso apelido. “Fui para lá e comecei a tocar, fiz sucesso, e como tinha muita rixa naquele tempo, o pessoal não gostava de ver cuiabano sendo mais famoso, isso foi antes da divisão do estado. Tinha uns jornalistas que resolveram me apelidar com nome de cachorro como uma forma de me diminuir, só que o apelido pegou, e eles acabam ficando sem graça depois disso”. Mas sua esposa tem outra versão para o apelido, disse que o esposo foi magro, e quando voltou tinha engordado, e estava como uma bolinha.

O último CD que lançou, Lembranças dos 73 anos do Mestre Bolinha, é um mix de tudo o que já fez, tem rasqueado, bolero, lambada. O músico tem um pedido a alguns de seus antigos alunos, hoje o prefeito de cuiabá, Emanuel Pinheiro, e também para o governador do estado, Pedro Taques. “Eu gostaria de pedir para eles olharem mais para Cuiabá, essa cidade linda e arrumem a casa para poder ajudar o povo dessa cidade maravilhosa”, finaliza.
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