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Sexta-feira, 19 de abril de 2024

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Escândalos derrubam diretor do teatro Bolshoi após 13 anos de gestão

Os escândalos e a corrupção que atingiram nos últimos anos o templo do balé russo, o lendário teatro Bolshoi de Moscou, derrubaram nesta terça-feira o seu diretor, Anatoli Iksanov, que deixa o cargo após 13 anos de gestão polêmica.

O ex-diretor do mítico teatro será substituído por Vladimir Urin, de 66 anos, diretor do teatro musical moscovita Stanislavsky e Nemirovich-Danchenko, anunciou o ministro da Cultura russo, Vladimir Medinsky, segundo as agências do país.

"Não planejo nenhuma revolução e entendo perfeitamente que neste teatro, como em qualquer outro, ninguém faz nada sozinho. Confio que a maioria das pessoas que trabalha aqui, gente maravilhosa e com talento, seja minha aliada e possamos resolver juntos os problemas atuais", disse Urin após tornar pública sua nomeação.

Iksanov, de 61 anos, deixará o cargo com honra para ocupar a cadeira de assessor do ministério da Cultura apesar das polêmicas relacionadas ao Bolshoi nas quais esteve envolvido nos últimos anos, sobretudo desde o início da reconstrução do histórico edifício em 2005.

As maiores obras de remodelação do último século, salpicadas por suspeitas de desvio dos fundos públicos destinados ao projeto, atrasaram por vários anos.

Há menos de um mês, o ministério do Interior denunciou o desfalque de cerca de 90 milhões de rublos (R$ 6 milhões) na faraônica obra iniciada com Iksakov na direção do teatro.

Em março, a Audiência de Contas da Rússia abriu uma investigação sobre as despesas do Bolshoi durante o ano de 2012 e o balanço financeiro da direção do teatro.

Além disso, Nikolai Tsiskaridze, que até poucos dias atrás era o principal bailarino do Bolshoi, denunciou que as reformas não levaram em conta a opinião dos artistas.

Em particular, ele criticou que uma das novas salas de ensaio é tão baixa que os dançarinos não podem levantar seus companheiros sob risco de estes baterem no teto.

Esta e outras críticas custaram caro à estrela do balé russo, conhecida pelos frequentes enfrentamentos com a direção do teatro.

Após dois desentendimentos, um deles por falar com a imprensa, Tsiskaridze teve que abandonar a companhia de balé após não ter renovado o seu contrato, que expirou no dia 30 de junho.

O ambiente pesado que, segundo pessoas próximas do Bolshoi, impera no teatro ficou claro após a brutal agressão sofrida pelo diretor da companhia de balé, Sergei Filin, em janeiro, quando teve o rosto borrifado com ácido em um crime supostamente encomendado pelo seu dançarino Pavel Dmitrichenko, que está preso.

Segundo a polícia, Dmitrichenko teria encomendado o ataque contra Filin por considerar que o diretor da companhia deixava a sua esposa, a também dançarina do Bolshoi Angelina Vorontsova, em segundo plano.

Filin, que ficou praticamente cego após o ataque e está na Alemanha, onde segue um tratamento de reabilitação após várias operações nos olhos com a esperança de voltar a dirigir o balé do Bolshoi, não quis comentar a demissão de Iksakov.

O ataque ao diretor e a saída da maior estrela não colaboraram em nada com o clima da companhia de balé mais prestigiada da Rússia.

Svetlana Zakharova, principal bailarina do Bolshoi e deputada do Parlamento russo pelo Rússia Unida, partido do presidente russo Vladimir Putin, se negou a interpretar o papel principal na obra "Onegin", estreia que fechava a temporada teatral, após ser incluída no elenco suplente.

"Muitas coisas aconteceram ultimamente, coisas que foram se acumulando, e o último acontecimento, a recusa de Zajarova de dançar em 'Onegin', teve, com certeza, seu papel" na demissão de Iksakov, disse a diretora da companhia de opera do teatro, Makvala Kasrashvili, à agência "Interfax".

O novo diretor do Bolshoi, que deixa a direção do Stanislavsky e Nemirovich-Danchenko após 18 anos, transformou o teatro musical de Moscou em um dos mais relevantes na cena cultural russa, graças à introdução de espetáculos de balé contemporâneo na sua programação, entre outras iniciativas.

Urin assume o cargo após 40anos de carreira dedicada à administração e direção teatral na Rússia.
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