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Desejo de estar na lista de alguém
Marinaldo Custódio
Esses dias, meu amigo Mário Jr., o professor tricolor (das Laranjeiras), disse que iria publicar no Face um texto pra homenagear talentos artísticos, das mais diversas áreas, nascidos e criados em São José dos Quatro Marcos, aí também incluindo aqueles que porventura tenham passado alguma temporada de suas vidas a habitar por aquelas bandas.
Brinquei com ele para que não esquecesse de modo algum o nome daquele, daquela, de fulano, sicrano e beltrano, da moça cantora, do jornaleiro-historiador, da coisa e tal e da tal e coisa.
Como se coubesse e a nossa memória animal pudesse dar conta de colocar tanta gente e tantas lembranças num simples texto feito, de início, no intuito de homenagear e estimular sobretudo talentos nascentes (caso do garoto Pedro Violeiro, de 14 anos), e, de quebra, se possível, ‘bombar’ nas redes sociais, mídias digitais.
Doce ilusão. Também eu já entrei nessa de tentar fazer listas disso ou daquilo (no meu caso, quase sempre de livros e autores/autoras de literatura). Na vida real, ainda andei fazendo aquelas antigas seleções musicais para gravar em fita cassete ou mesmo em CD; hoje, entretanto, com os “pendrives de 4 mil músicas”, Spotify e tal, perdeu-se toda a graça e magia. E lá se foi atirado ao rio do tempo mais esse costume jurássico (ou ‘cringe’, para usar uma palavra, já gasta, da moda atual).
As listas. De hoje ou de ontem. As listas.
Mas, por falar nelas... Outro amigo escritor-jornalista que, aliás, já não vejo mais entre nós há tempos, certa vez me disse, na redação do ‘Diário de Cuiabá’, que estava entregue a uma coleta minuciosa e ardente de dados... Que andava queimando as pestanas e consumindo as noites e as vistas numa pesquisa sem trégua, há anos, visando publicar um volume composto de pequenos verbetes sobre qualquer autor que tivesse publicado qualquer livro de literatura em toda a história de Mato Grosso!
Veja bem! Todo e qualquer autor, com sua respectiva obra literária impressa, em todos os tempos mato-grossenses!...
Que loucura.
Então lhe disse: “deixa desse, João, pois certamente você, por mais que cuide e se empenhe, há de esquecer (ou desconhecer ou não descobrir) o nome de alguém e, aí, já viu, né? Pode vir choradeira, ciumeira, nomes feios, despeito e mágoa funda, pois se coração/alma de qualquer humano é terra onde ninguém anda, imagine então o de artistas da pena!”.
Dá pena.
Ah, mas as listas! As listas...
Nelas, há de haver MPB. Como, aliás, em quase todo texto meu, nos quais sempre encontro um jeito de fazer ligação com as canções que ouvi e ouço ainda no rádio.
Claro, achei. Na chique e na brega. Pra variar.
Na do andar de cima, a reflexão ‘filosófica’ de um Oswaldo Montenegro, em ‘A Lista’: “Faça uma lista dos sonhos que tinha / quantos você desistiu de sonhar / quantos amores jurados pra sempre / quantos você conseguiu preservar”.
Já no andar de baixo, vamos de Amado Batista mesmo, em ‘Lista de Compras’: “Quando chega o fim de semana / fico em casa para descansar / uma lista de um metro ou mais / você traz para me mostrar (...)”.
Pois é: de um lado, os sonhos, ah, os belos sonhos: os perdidos ou meio realizados do passado e os de agora apontando para o futuro; do outro, o prosaico arroz com feijão do cotidiano: o gás de cozinha, o café, a cachaça, a pimenta-malagueta, o pepino...
O sonho e o feijão. O feijão e o sonho. De bandeja pra você.
Disse logo no início que havia desistido, há tempos, das listas... mas eis eu aqui falando delas num texto inteiro. A vida inteira.
Como tanta gente faz, aliás. Basta lembrar aquelas elaboradas com tanto carinho e expectativa, em especial nos réveillons da vida, estas, de desejos, visando ao novo ano que se inicia: arrumar um namorado ou uma namorada; casar; ter filho; fazer um curso universitário ou uma viagem; entrar numa academia pra perder peso e ficar mais bonito(a); participar de um intercâmbio acadêmico em outro país. E por aí vai... E, como consolação, penso que talvez, além do Mário, do João e dos cantores citados, há gente muito chegada, amigos do peito, pessoas amadas, ainda agora, falando, fazendo, escrevendo sobre listas.
Por exemplo? A Andie. Sim, a Andie, sim, a esta hora, roubando uma horinha do seu tempo no trabalho, deve estar, mão no queixo, pensativa, elaborando mentalmente uma dessas. À noite, em casa ou num happy hour, então...
Uma lista de propósitos, para cumprir na semana, no mês, no ano, na vida.
Sim! Porque uma vida sem lista e, principalmente, sem propósito, não tem a menor graça.
Que o diga a Andie. E a Linda Inara. E outras tantas e outros mais que nesta hora já nem lembro. E, já, nem digo.