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Colunas

Uma tarde no salão

Isolda Risso

Embora seja portadora de uma dose de vaidade, não sou frequentadora assídua dos salões de cabeleireiro, cá para nós, não me agrada passar horas por lá. Vou quando preciso cortar ou pintar o cabelo, e mesmo assim procuro ir em dias e horários de menor movimento. Manicure e depilação tenho uma pessoa que me atende em casa. Sei que muita gente ama salão, eu não tenho paciência e, me desculpem as que gostam, acho que em salão corre muita fofoca, não é minha praia. Maaass... gosto é gosto.

Um belo dia não consegui um horário adequado para mim, ou seja, uma hora em que houvesse o menor movimento possível, mas o cabelo estava necessitando de um trato geral e com urgência, então encarei o encaixe. Lá fui eu, sentei e aguardei uma brecha. Como sempre, tenho um livro na bolsa, fui preparada para esperar e até que não me incomodei tanto. Não posso dizer que o salão estava lotado, mas tinha um burburinho danado. De repente o burburinho aumentou, era gente falando, rindo, quase gritando. A princípio não sabia dizer o que era, até que entrou uma linda moça na sala em que eu aguardava e constatei que a razão de todo aquele barulho era pela sua chegada. Devia ser alguém muito querida e bem enturmada com o pessoal, pois a maioria dos que ali estavam viera cumprimentá-la. Aos poucos fui me interando do porquê de tantos cumprimentos e felicitações, ela estava grávida do primeiro filho e um dia antes havia recebido a notícia via ultrassom que daria a luz a um menino. Logo em seguida fui chamada ao lavatório e quando retornei à sala, custei a entender o papo que fluía.

Cheguei a pensar que algo estranho havia ocorrido naquele lavatório, pois quando saí a futura mãe estava grávida e ao retornar a mesma mãe já se referia ao filho como um predador. Será que havia entrado em alguma máquina do tempo que passou tão rápido assim? Não... ela estava bem ali, na minha frente e a barriguinha permanecia a mesma, eu é que havia perdido o fio da conversa e estava tendo dificuldade em entender, mas bastou me sentar e não demorou para novamente captar o assunto em pauta. Era o seguinte: a futura mãe falava que quando seu filho crescesse ela queria que ele fosse bem moleque, daqueles bem danados que falava palavrão e tudo mais, pois guri tinha que ser assim e quando ele chegasse na adolescência ela iria ensiná-lo a ser um garanhão para comer todas, traçar todas e outras proezas mais no mesmo nível. Levei um tempinho para processar a informação dada em alto e bom tom a todos que se encontravam naquele recinto, alguns concordaram, outros riram e poucos não se manifestaram, calando-se apenas.

Acabei saindo do salão com a certeza de que o novo século chegou e alguns costumes da barbárie permanecia. Gente, meus filhos às vezes falam que eu vivo fora da realidade, pode ser que em alguns aspectos eu tenha mais dificuldade de absorver novos conceitos, mas existem posturas que já deveriam ter sido abandonadas há muito tempo. Meu pai tinha um ditado que dizia: “homem chacoalhou o casaco está limpo”. Nunca aceitei este conceito e continuo sem aceitar, homem e mulher no que se refere à moral são iguais, sei que estou na contramão, mas não abro mão deste valor. As pessoas aceitam com naturalidade homem ser safado, se conformam dizendo umas para outras que todos os homens são iguais. Perdoe-me quem assim pensa, para mim quem aceita viver esta realidade, pouco se valoriza e se iguala.

Enganos acorrem? Sim, quem de nós esta imune a uma paixão alucinante? Quem de nós pode afirmar que jamais vai pisar-no-tomate? Se tiver juízo, ninguém garante isso, você passar por um momento de conflito é uma situação, você ser um galo assumido é bem diferente. Agora pensemos juntos quando é que isto vai mudar? Enquanto houver mães educando seus filhos a “comer” e “traçar todas”, teremos homens desrespeitando suas esposas, companheiras, arruinando famílias e todas essas maravilhas que temos visto dia a dia.

Apesar de que hoje muitas mulheres têm se assemelhado aos homens galinhas no quesito galinhagem, o que, além de ser deprimente, é um grande equívoco que cometem em suas vidas. Somos nós as mulheres quem passamos os princípios e conceitos de moral, fidelidade e respeito aos nossos filhos. Os nossos homens foram educados por uma mulher, e nós mães educaremos nossos filhos para nossas noras.

Que espécie de homem estamos deixando para o mundo?
Por isso questiono, será que não somos responsáveis?
Creio que temos nossa parcela de responsabilidade sim.
Veja esta futura mãe que relatei, antes do filho nascer, ela já está imprimindo em seu psiquismo este conceito “galinha de ser”.
E caso esta mãe venha a ter uma filha, será que vai desejar “galinha” para ser seu genro?

É bom pensar nisto!

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*Isolda Risso é Personal & Professional Coaching Executive, Xtreme Life Coaching, Neurociência no Processo de Coaching, Programação Neurolinguística (PNL) pedagoga por formação, cronista, retratista do cotidiano, empresária, Idealizadora do Café Com Afeto, mãe, aprendiz da vida, viajante no tempo, um Ser em permanente evolução. Uma de suas fontes prediletas é a Arte. Desde muito cedo Isolda busca nos livros e na Filosofia um meio de entender a si, como forma de poder sentir-se mais à vontade na própria pele. Ela acredita que o Ser humano traz amarras milenares nas células e só por meio do conhecimento, iniciando pelo autoconhecimento.

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