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A Garota Que Você Deixou Para Trás: Sobre guerra, arte, otimismo e amor

Teca Machado

Apesar do nome típico de mais um romance água com açúcar, "A Garota Que Você Deixou Para Trás", de Jojo Moyes, tem um tema muito sensível: A I Guerra Mundial e restituição de espólios.

Em 1917, Sophie Lefèvre vive em St. Perrone, no interior da França, com os irmãos e os sobrinhos, enquanto o marido Édouard e o cunhado estão lutando no front. A ocupação alemã já chegou à pequena cidade e todos sofrem com a escassez de alimentos e de liberdade. Uma das poucas coisas no mundo que ainda deixam Sophie feliz é o quadro de si mesma que o marido, um artista que estudou com Matisse, fez e deixou como recordação, chamado "A Garota Que Você Deixou Para Trás".


(Jojo Moyes)

Sophie e a irmã cuidam do Le Coq Rouge, um bar que é obrigado pelos alemães a cozinhar para os soldados. Virando alvo de especulação e desconfiança da cidade, as mulheres passam a viver próximas dos inimigos. O Kommandant alemão se interessa por Sophie e pelo quadro, nascendo aí algo parecido com amizade em tempos de guerra. Desesperada para trazer o marido de volta, Sophie entra numa complicada trama que envolve o quadro e seus princípios.

Então a história pula para 2006, quando a jovem viúva Liv Halston, atual dona de A Garota Que Você Deixou Para Trás, tenta superar a morte precoce do marido. Ao conhecer Paul McCafferty num momento particularmente difícil, começa um processo de restituição de espólios de guerra em que o seu tão adorado quadro pode ser tomado. Mais do que manter a pintura consigo, Liv deseja saber o que aconteceu com a moça de sorriso enigmático que deu origem a obra de arte e vai descobrindo que a vida de Sophie foi mais complicada do que pareceu no primeiro momento. As duas histórias se cruzam de uma maneira fantástica.

A primeira parte do livro é narrada em primeira pessoa por Sophie, o que é ótimo, já que temos em primeira mão as suas impressões da guerra. Certos trechos nos dão aquele aperto no peito ao pensar nos horrores que esses conflitos geraram. Logo de cara já gostamos de Sophie pela sua garra, vontade de superar obstáculos e pensamento rápido (Destaque para a cena que envolve um porco disfarçado de bebê), e torcemos loucamente por um final feliz para ela e para a sua pintura.

A segunda parte, que fala de Liv, está em terceira pessoa. É muito boa também, mas Liv não nos desperta a empatia que Sophie traz. Não que eu não goste dela, mas Sophie é melhor. O desenrolar do romance dela com Paul certas vezes é superficial, mas é preciso lembrar que o principal da história é a disputa e o destino da pintura, não o casal.

A Garota Que Você Deixou Para Trás tem reviravoltas, mistério, drama de guerra e situações inesperadas, tudo isso escrito de uma forma sensível, gentil e ao mesmo tempo sincera.

O que eu queria mesmo é ver uma “imagem” do tão falado quadro A Garota Que Você Deixou Para Trás.

Recomendo.

*A escritora e jornalista Marcela Machado, conhecida por todos como “Teca”, é leitora ávida e apaixonada por livros. Escreve no blog “Casos, Acasos e Livros” e é autora de “I Love New York”, publicado pela editora Novo Século. Teca dá dicas de livros no Olhar Conceito todas as terças. Email de contato: tecamachado@gmail.com

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