Mamãe quando estava entre nós falava assim: “ quando eu era mocinha, eu tinha quatro mudas de roupa, três para ficar em casa e uma para ir á missa aos domingos. A roupa da missa era um vestido verde e como eu só usava ele, me apelidaram de periquito verde, e sabe que de certa forma era melhor ?!
Hoje meu armário esta cheio de roupas, tem dias que abro e nada me agrada, ter muitas opções mais complica do que facilita a vida “.
Mamãe.... foi uma mãe zelosa, uma mulher trabalhadeira, como diz os antigos, um pé de boi para trabalhar. Brava, ai como era brava e explosiva, os filhos andavam pianinho com ela.
Mamãe era geniosa, sua vontade tinha que prevalecer, o que descobri depois de um tempo que era altamente vantajoso “em alguns aspectos” ela ser assim.
Por volta dos meus treze anos, um dia saímos para comprar sapato para mim.
Ao chegar na loja, depois de olhar as opções, eu gostei de um e ela de outro.
Não que a opção dela fosse ruim, era bonito o sapato, mas já que eu tinha que escolher somente um, eu gostei mais de outro.
Ela tentou de todo jeito me convencer de que a escolha dela era melhor, eu não aceitei, afinal quem ia usar o sapato era eu.
Após alguns minutos nessa disputa e a atendente perdida entre nós duas, mamãe me olhou com um olhar fuzilante e falou: “ eu nunca vi uma pessoa mais teimosa que você, ou é do seu jeito ou você não faz, olha minha filha, se você não mudar vai sofrer muito na vida. Me deu as costas, se dirigiu para a pobre da vendedora e disparou: embrulhe os dois “.
Eu teimosa né... só eu.
Depois deste evento descobri que nas próximas saídas para compras de roupa e sapato, seria mais inteligente eu aguardar ela se manifestar primeiro, depois que ela escolhesse eu decidia por outro e batata, a pessoa que aqui vos fala, saia da loja linda e faceira levando os dois .
Com o tempo ela se deu conta da minha tramoia, mas fazia de conta que não sabia.
As vezes penso que ela até gostava, eu com certeza adorava discordar dela nestas situações, e assim fomos tocando a vida enquanto ela esteve estagiando por aqui.
Assim era mamãe, tinha dificuldade de abrir mão de suas vontades, mas foi uma mãe extraordinária em muitos sentidos.
É... enquanto vivermos as escolhas farão parte da nossa vida.
Independente de estarmos inseguros, indecisos ou totalmente perdido com o que escolher, ninguém escapa dessa danada.
Pensando nisso me veio algo assim:
A cadeira ou o banco?
Ela está diante do mar, ele descansa na frente do lago.
Mas podemos escolher trocá-los.
Colocar a cadeira diante do lago e o banco nas areias da praia.
Talvez escolher outro lugar, que problema há?
Penso que devemos aceitar nossa vontade, afinal é só uma imagem.
E com imagem a gente pode brincar.
Podemos criar, sorrir, modificar, fantasiar, idealizar.
Diante de uma imagem também podemos,
sentir, refletir, dormir, sonhar,
despertar, cismar, presumir, julgar,
muitas vezes nos enganar.
Podemos nos elevar, entristecer, desejar,
viajar, ampliar, colorir ou diminuir.
Para isto basta só imaginar.
Imaginar-se livre ou algemado.
Podemos adquirir outros jeitos ou reter-se em trejeitos.
Mudar valores ou manter-se em penhores.
Podemos desejar embarcar e navegar nas águas cristalinas do Ser.
Ou se preferir ancorar-se nos desejos do Ter.
Podemos também esmorecer,
Sentarmos na cama, no sofá, no chão, quem sabe na rede e esperar a vida passar.
Na porta ou na janela, a praça seria um bom lugar.
Enfim... onde será que vamos aportar?
Diante do lago ou nas areias do mar?
Quem sabe em outro lugar.
Vá lá, ponha-se a imaginar, afinal a vida é sua, as escolhas são suas, a plantação é sua e a colheita inevitavelmente sua.
Um abraço
Isolda