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Domingo, 16 de junho de 2024

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'GÊNESIS DA GERAÇÃO 80'

Mostra conta história do Ateliê Livre e evidencia trajetória de 14 artistas mato-grossenses

Foto: Reprodução

Mostra conta história do Ateliê Livre e evidencia trajetória de 14 artistas mato-grossenses
A importância histórica do Ateliê Livre, que funcionou no Palácio da Instrução, de 1976 a 1982, vai estar resumida e ilustrada com obras de 14 artistas de Mato Grosso na mostra que abre às portas nesta quinta-feira (23), "Ateliê Livre: Gênesis da Geração 80", na Galeria Arto, em Cuiabá, a partir das 19h. 


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O trabalho tem curadoria do artista Gervane de Paula e do próprio galerista, José Guilherme Barbosa Ribeiro. A exposição segue até 30 de agosto.  Além da mostra de artes, serão realizadas rodas de conversas sobre o tema, durante o período do evento. 

Idealizado e materializado por mulheres, a primeira-dama do Estado, Maria Lygia de Borges Garcia, pela animadora e crítica de arte, Aline Figueiredo e pela pintora Dalva de Barros, que foi a orientadora dos alunos, o local ocupou umas das salas térreas do Palácio da Instrução e representou um marco na história das artes plásticas de Mato Grosso.

Os pintores Humberto Espíndola e João Sebastião também atuavam na orientação aos frequentadores. Os novos artistas que saíram do Ateliê passaram a levar o nome de Mato Grosso para o Brasil, para o mundo, e alguns deles se engajaram no movimento Geração 80, que surgiu primeiramente no Rio de Janeiro, com características estéticas criativas e de contestação política, inerentes ao que se vivia no Brasil que agonizava nos últimos anos da Ditadura Militar. 



Ateliê Livre porque seria, como realmente foi, o local de ensino gratuito, aberto a todos que o procuravam, sem distinção, sem qualquer custo aos frequentadores que receberam os insumos para desenhos e pinturas. 

“Nós, que somos entusiastas e consumidores de arte devemos ter sempre o olhar atento à história, aos esforços empenhados de todos que trabalharam para que tivéssemos as conquistas de hoje. Sabemos que o Ateliê Livre se materializou graças à ousadia destemida da animadora e crítica de arte, Aline Figueiredo, que somou à sensibilidade e à didática da artista Dalva de Barros e, juntas, formaram o mais importante grupo de artistas da Geração 80”, contextualiza o galerista curador, José Guilherme Barbosa Ribeiro enfatizando que é papel de todos, poderes públicos e das empresas, resgatarem a história e repassá-las às novas gerações.   

Reunir as obras: um grande desafio

O trabalho de garimpagem das obras, as que representam com maior fidelidade possível o Ateliê e o contexto da Capital, daquele período, foi um trabalho árduo, feito pelo artista Gervane de Paula, também curador, pois as artes estão em mãos de colecionadores particulares, nos acervos públicos e algumas delas, infelizmente, foram danificadas e ou perdidas, por incêndios ou má conservação. 

Para Gervane, a falta de museus, com sistemas adequados de curadoria, catalogação, conservação e proteção das obras representa uma perda não só de valores materiais, mas especialmente das memórias culturais do povo mato-grossense, que depende da cultura para se retroalimentar de saberes e tomada de consciência. 

“Nessas horas vemos com mais tristeza ainda a falta de uma política pública para cuidar do nosso patrimônio, as artes visuais. Juntar os fragmentos da história está difícil e trabalhoso, pois nem todas as obras importantes estão disponíveis ou foram localizadas para serem expostas”, lamenta o curador, garantindo que mesmo assim, a Mostra terá força e beleza, pois as mais de 50 obras selecionadas vão trazer as memórias reais e afetivas desse passado tão valioso.  

O artista Gervane de Paula, resume a importância do Ateliê Livre para a sua formação: “Em Mato Grosso, é possível afirmar que existe uma arte antes e outra, após o Ateliê Livre. Eu pertenço a segunda fornada, a que passou a atiçar os horrores do provincianismo tranca tempo”.  

O Ateliê Livre foi a base estrutural também para outros artistas: “Para mim o Ateliê foi um portal para o mundo, para as descobertas”, afirma o pintor Márcio Aurélio. Anna Amélia Marimom também se manifesta: “Na época tinha 17 anos, morava em Santo Antônio do Leverger. Vinha de kombi de manhã para estudar em Cuiabá e voltava à tarde.  Depois da aula, eu ia para o Ateliê que era a minha casa na Capital”.  



Para a crítica de arte e animadora Cultural, Aline Figueiredo, o resultado efetivo do Ateliê, em relação ao expressivo número de pessoas que seguiram na vocação artística, depois de terem frequentado o ambiente, está relacionado à dedicação dos mestres, à infraestrutura, à qualidade da instrução oferecida, à constante presença dos mentores, atentos à singularidade de cada um. 

Para Dalva de Barros, o processo de aprendizagem foi natural e vitorioso porque havia compromisso entre todos em aproveitar a oportunidade.  Ela conta que cultivava uma grande liberdade para que cada um fizesse escolhas e que um grupo de jovens despertou para a arte, de forma mais intensa e se tornaram amigos, parceiros de toda uma vida dedicada à pintura. 

“A primeira coisa que fiz no Ateliê foi serrar madeira e preparar as telas. Levava todo dia um gravador, com uma fita k7, com apenas três músicas gravadas, e passávamos nossas horas desenhando, pintando e ouvindo músicas. Eu orientava para que observassem as paisagens do caminho que faziam, para buscar inspiração. Também fazíamos aula de campo, para novos olhares, assim foi acontecendo, descreve   Dalva, com a serenidade de quem cumpriu uma inestimável missão.   

Em 1982, durante o Governo de Frederico Campos, o Ateliê Livre do Palácio da Instrução fechou as portas. Um ano antes, em 1981 o Museu de Arte e Cultura Popular da UFMT criou o próprio Ateliê Livre, dando continuidade ao ciclo de formação, facilitando o acesso da população dos arredores da Universidade. 

Artistas participantes: 

1.Anna Amélia Marimon

2.Carlos Lopes

3.Dalva de Barros

4.Gervane de Paula

5.Marcelo Velasco

6.Márcio Aurélio

In memorian

7.Adir Sodré 

8.Alcides dos Santos 

9.Benedito Nunes

10.Dirce Nestor 

11.Jared Aguiar 

12.Nilson Pimenta 

13.Osvaldina dos Santos 

14. Regina Penna

 
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