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Sábado, 27 de abril de 2024

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DJ MULUC

Tecnobrega, tecnomelody, Calypso e carimbó: paraense aposta em sets regionais nas noites cuiabanas

Foto: Reprodução

Tecnobrega, tecnomelody, Calypso e carimbó: paraense aposta em sets regionais nas noites cuiabanas
Quando morava em uma comunidade ribeirinha de Santarém, no Pará, as músicas regionais como tecnobrega, tecnomelody e carimbó já tocavam no rádio de pilha do biólogo Alecsandro Oliveira Júnior, de 28 anos. Como o local não tinha energia elétrica na época, a música era responsável por transportar Alecsandro para outros universos. 

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Na mudança para Cuiabá em 2016, para cursar biologia na UFMT, os ritmos que nasceram nas periferias do Pará voltaram a ser importantes na jornada que transformou Alecsandro no DJ Muluc. Hoje ele se apresenta em bares e festas da cidade com o set composto por estilos musicais do Norte. 

“Desde muito cedo gostei de música, acho que é o tipo de arte que mais consumo atualmente. Antes do meu contato com a televisão, meu primeiro contato foi com a música através das rádios. No Pará, especificamente, com a cultura do Calypso, carimbó, tecnobrega, tecnomelody, o brega de modo geral, que era o que tocava nas rádios. Acho que a música foi meu primeiro contato com algo relacionado a arte”. 

Até 2022, a música funcionava apenas como refúgio para o DJ que, apesar de imaginar possibilidades, ainda não tinha se aprofundado no estudo da teoria musical. Foi quando começou a trabalhar no Rebu Bar, no bairro Boa Esperança, em Cuiabá, que o paraense foi incentivado a montar o primeiro set e se apresentar em uma das noites do estabelecimento. 

“Fiz amizade com a Larissa, uma das coisas que uniu a gente foi essa relação com a música. Por ser do Nordeste, ela conhece vários artistas, as regiões Norte e Nordeste conectadas, artistas do Norte fazendo sucesso no Nordeste, do Nordeste fazendo sucesso no Norte. Ela fez a proposta de eu apresentar um set, decidi tentar”. 

Ele começou se apresentando apenas no bar, mas o set tecnobrega tem feito sucesso entre os cuiabanos. “A galera foi gostando e chegando em outras festas temáticas que envolviam ou não as músicas tradicionais, até mesmo as festas eletrônicas, porque temos que lembrar que o tecnobrega é um estilo eletrônico, então foram surgindo outras oportunidades”. 

Além das músicas que ouvia no rádio de pilha quando morava na comunidade ribeirinha de Santarém, Muluc também tem o pai, o cantor Roberto Shamanti, como influência musical, que é um dos cantores da música de rezo no Norte do Brasil. 

“Atualmente ele é cantor de música de rezo, é um estilo mais espiritual, mistura várias culturas, desde batuques de candomblé e umbanda até o estilo folclórico da amazônia de fazer música, mas é cantada e voltada para espiritualidade. Antes ele cantava MPB, era artista de MPB há mais de 28 anos na Amazônia, minha referência na família é ele”. 



Músicas da periferia 

Em Cuiabá, Muluc não teve dificuldade para se adaptar ao clima ou à culinária, já que é fã do pequi e da farofa de banana, além de ter encontrado pontos de semelhança com sua própria cultura na música regional cuiabana. Quando chegou na cidade, o som do lambadão e do rasqueado chamaram atenção do paraense. 

“Quando chego em Cuiabá e me deparo com os estilos daqui, que são muito próprios e muito a cara da periferia, como lambadão, e rasqueado, que são oriundos da periferia e se assemelham na sonoridade, o próprio carimbó se assemelha muito aos estilos daqui, acho que representa a essência do povo da periferia, a população ribeirinha”. 

Para Muluc, tocar o set de música paraense em Cuiabá é mais que um projeto musical e tem sido uma forma de levar a cultura do Norte para outros lugares do Brasil. Ele afirma que o tecnobrega é uma das possibilidades de consumo de cultura na periferia. 

“Significa muito da minha origem, principalmente por ser da periferia do Pará. O tecnobrega ainda não é visto como música mesmo, pensando nele como uma música periférica, vejo que representa a periferia do Norte através da música, no sentido do ‘corre’ mesmo da vida. Quando os tecnobregas eram lançados, os artistas tinham que se virar para conseguir o alcance, que era por exemplo através da venda de CDs piratas”. 

Além de exaltar a própria cultura, Muluc, que agora tem se dedicado aos estudos de teoria musical, também pensa em fazer experimentações que misturam a música paraense e a cuiabana. 

“Tenho esse pensamento de experimentar o estilo que já existe e transformá-lo, penso dessa maneira, estou estudando produção musical e como o tecnobrega é um estilo eletrônico, que foi modificado ao longo dos anos, estava tentando produzir um remix da banda Calorosa, que é um lambadão, mas em uma versão brega, por enquanto estou curtindo e está sendo uma experiência muito massa de experimentar esses estilos”. 

O DJ ainda trabalha no projeto de uma festa que pretende mesclar os ritmos periféricos que nasceram em Cuiabá, no Norte e no Nordeste. “Eu e a Larissa queremos fazer essa conexão entre eles em uma festa para que ocorra esse encontro e essa troca cultural, porque é muito rica e está crescendo cada vez mais”. 

Muluc ressalta que a conexão de ritmos como o tecnobrega e outros estilos periféricos, como o lambadão, são essenciais para que a cultura de outros estados fora do Sudeste sejam vistas pelo mundo. 

“Vimos, por exemplo, a Gaby Amarantos, que é uma artista de tecnobrega e tecnomelody ganhando um Grammy Latino, que foi um marco. Temos muita referência já aqui em Cuiabá de quem está fazendo isso, a banda Calorosa tem tido esse papel muito importante de levar o lambadão para outros lugares, estão tendo esse reconhecimento e isso é muito importante”.
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