Piauí? Não! “Cadeirante”! Esta é a tatuagem que a modelo cuiabana, criadora de conteúdo e ativista PCD, Zannandra Fernandes, de 20 anos, tem estampada com destaque em seu abdômen. Há cerca de dois anos atuando nas mídias digitais, atualmente soma mais de 17 mil seguidores espalhados entre Instagram e TikTok. Com orgulho de ser o que é, milita contra o capacitismo usando seu perfil para informar, educar e combater o preconceito com beleza, conhecimento, humor e moda. “Só paro quando me ver em todos os espaços”.
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Nascida com distrofia muscular, aos 10 anos Zannandra parou de andar. Com o passar dos anos, precisou se adaptar à cadeira de rodas e a primeira relação estabelecida entre elas foi negativa, “assim como qualquer outra pessoa, também fui criada em uma sociedade capacitista e ensinada a ver uma cadeira de rodas como símbolo de derrota”.
Com o tempo, entendeu como uma ferramenta de libertação, para além de um instrumento de acessibilidade. “Minha cadeira de rodas é uma extensão de mim, ela é muito mais que uma ferramenta de acessibilidade, faz parte da minha identidade”.
Estampada com destaque, a modelo tatuou a palavra “cadeirante” em seu abdômen. Com letras garrafais, demonstra o orgulho que ela deposita em sua identidade e naquilo que lhe rendeu libertação, autonomia e segurança para vida. Inspirada no comediante Whindersson Nunes, que se orgulha de ser piauiense e tatuou Piauí no corpo, a influencer optou por escrever aquilo que lhe garante honra e dignidade.
"California? Não Piauí? Não CADEIRANTE! Essa foi a minha primeira tatuagem e, tinha que ser sobre algo que fosse simbólico e importante pra mim. Ser uma mulher cadeirante, me fez ser a Zannandra que sou hoje. E, tenho orgulho de ser ela. Sempre que tenho uma oportunidade, reafirmo, cadeira de rodas é LIBERDADE".
Mesmo que o público sem deficiência seja ignorante e lhe reduza às abordagens sobre PCD e como é ser cadeirante, a modelo não se resume a isso. Pelo contrário, esse foi seu ponto de partida ao autoconhecimento que abriu as portas para o que tem conquistado nas redes dia após dia.
“Minha vida não se resume a ser cadeirante, mas esse foi o ponto de partida do meu autoconhecimento, de ser quem eu sou na sociedade. Quis deixar bem grandão aqui mesmo. Quem acha que só sei falar sobre deficiência, vai ficar incomodado. Quem acha que é motivo para se envergonhar, também vai ficar muito incomodado e eu vou ficar muito feliz”, disse.
Ela que só para quando for vista em todos os espaços, tem certeza de que está trilhando o caminho certo. De Cuiabá para o mundo, foi uma das convidadas da marca nacional de beleza, Natura, para participar do Rock in Rio.
“Sem dúvidas alguma, foi um dos trabalhos mais satisfatório e importante que fiz até hoje. Nunca havia ido em um Rock In Rio e, ter essa primeira experiencia sendo convidada foi algo muito especial e que me deu um norte de que estou no caminho certo”.
Influenciadora digital
Quando tinha 17 anos, Zannandra estava terminando o Ensino Médio e sua vida estava baseada em se preparar para o vestibular e estudar sobre capacitismo. Foi também nesta época que diversos criadores PCD estavam conquistando, coletivamente, “uma visibilidade absurda”.
Nessa onda, a ativista descobriu, há aproximadamente 2 anos, que poderia usar a potência de sua voz para mudar a própria realidade e as redes sociais como uma ferramenta para influenciar outras pessoas. “Nesse tempo, fui entendendo a potência disso e que, para combater um preconceito, existem e necessita de que seja feito de diversas formas”.
Quando começou intensificar seu trabalho nas redes, abordava as questões de luta contra o preconceito de forma didática e educativa, com falas diretas e objetivas. Porém, afirmou que os diversos ciclos de sua vida refletem em diferentes conteúdos criados.
“Hoje em dia, explicar o que é capacitismo não é algo que eu queira fazer nas minhas redes. Afinal, eu já fiz isso, centenas de outros criadores com deficiência já fizeram isso, a informação já está aí”.
Atualmente empregada e morando sozinha, a meta na criação de conteúdo está sendo reformulada para explorar sua nova fase. Abordagens sobre a experiência vivida no mercado de trabalho enquanto Pessoa com Deficiência, rotina de erros, acertos, inseguranças e tudo o que se sentir confortável será retratado.
“Atualmente eu busco criar conteúdos que eu me identifique, não sou somente uma ativista PCD e criadora de conteúdo sobre o anticapacitismo, eu sou uma criadora de conteúdo com deficiência. Eu quero existir na moda, na beleza, no humor, etc. Assim como qualquer outro creator, com ou sem deficiência”.
Luta contra o capacitismo
O capacitismo, assim como o racismo, é um preconceito estrutural que está presente desde a formação da sociedade. Em camadas, se manifesta com diversas formas e graus. Na leitura da influenciadora, “É importante discuti-lo para que consigamos entender seus efeitos na sociedade como um todo”, explicou.
Foi com essa intensão que há dois anos ela intensificou seu trabalho na internet somando junto com outros influenciadores PCD na luta contra discriminação social destinados à Pessoas com Deficiência.
Zannandra tem seu corpo feito de chacota, passa por questionamentos invasivos e desrespeito. Com orgulho de ser quem é, ela lida diariamente contra isso espalhando conhecimento, beleza, moda e humor em seus perfis.
“Para combater um preconceito, necessita de que seja feito de diversas formas. Cada uma, impacta de uma forma diferente e, até mesmo um público diferente. O humor é um recurso. Falas sérias, diretas e objetivas é um recurso. Falas mais impositivas é um recurso. Falas mais didáticas é um recurso”, argumentou.
