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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Primeira elefanta morre quase três anos após chegar ao Santuário em Chapada dos Guimarães

Foto: Reprodução / Facebook

Guida faleceu na última segunda-feira

Guida faleceu na última segunda-feira

A elefanta Guida, primeira a chegar ao Santuário de Elefantes (SEB) de Chapada dos Guimarães, em 2016, morreu na última segunda-feira (24). Em uma postagem no Facebook, os coordenadores do local comunicaram o falecimento com um texto emocionante, onde falam sobre a reação de Maia – companheira de Guida desde o primeiro dia – e Rana, que chegou em dezembro de 2018.

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Guida tinha idade aproximada de 45 anos. Foi tirada de sua casa, a Tailândia, ainda bebê, e trazidas para trabalhar no circo, onde ficou por quatro décadas. Segundo registros, foi ‘funcionária’ do Circo de Portugal e, depois de resgatada, passou a morar no sítio do advogado do circo, na cidade de Paraguaçu – Minas Gerais – acorrentada e em uma área de 1500 metros quadrados. 

Em 2016, foi trazida para o SEB. A terra onde hoje se instala o Santuário foi uma fazenda de gado, chamada Fazenda Santa Fé do Boqueirão. São 1100 hectares, onde no máximo 50 elefantes (todos os que estão em situação de risco na América Latina) poderão viver em harmonia. Ele fica localizado no distrito de Rio da Casca, município de Chapada dos Guimarães, a 110 km de Cuiabá, capital de Mato Grosso.

Em um ano vivendo no Santuário, Guida – e sua companheira, Maia – engordaram, juntas, mais de 500kg, e a área que ocupam passou de um para 18 hectares. Todas essas informações foram divulgadas em dezembro de 2017 em uma matéria do jornalista Roberto Kaz para o site da Revista Piauí.

O Santuário de Elefantes Brasil foi criado pela publicitária Junia Machado. Sua preocupação com estes animais é antiga e, após muita pesquisa, em parceria com a ONG Elephant Voices e com o Santuário do Tenessee, ela encontrou a área para realizar seu sonho.

Sua implantação e funcionamento contam com apoio de duas instituições internacionais dedicadas a elefantes. A Global Sanctuary for Elephants (GSE) dá suporte à implantação de santuários e treinamento para tratadores. A ElephantVoices pesquisa comportamento de elefantes na natureza.

Toda a manutenção do projeto vem de doações e a colaboração pode ser feita de diversas maneiras e com qualquer valor.

Leia a íntegra do comunicado sobre o falecimento de Guida:

Não gostaríamos de escrever sobre isso, porque as palavras tornam tudo real...

Guida faleceu ontem à noite. Nossa grandona, nossa agradecida Guida, que deveria viver para sempre, aparentemente tinha outros planos.

Nunca é fácil perder um elefante, mas quando não há sinais e sua luz ainda brilha tão forte, é mais difícil aceitar. Sabemos dos danos que anos de cativeiro podem causar, mas não estávamos preparados para perde-la.

Enquanto escrevemos, Maia está ao seu lado. Ela caminhou até Guida, um tanto hesitante a princípio, aparentemente insegura do que tinha diante dela. Inicialmente manteve sua tromba distante, cheirando-a vagarosamente e depois a afastando. Depois de alguns momentos tocando e cheirando Guida, conseguiu entender o que aconteceu.

Maia ficou quieta, mas também desorientada. Sentimos que deveríamos distraí-la. Demos a ela um pouco mais de feno (ela encontra conforto na comida) e decidimos deixa-la sozinha com sua irmã para processar e sentir o que deveria sentir.

Rana passou muito tempo próxima a cerca onde Guida se encontrava ontem a noite. Com sua tromba cheirava em sua direção, sabia claramente que algo estava errado. Hoje de manhã permaneceu próxima ao galpão, cheia de luz como sempre, emitindo alguns chiados durante o café da manhã. Ela não está na área onde Guida se encontra, não temos certeza se irá até ela, mas o espaço está aberto, caso resolva ir. Não a forçaremos, ela sabe que Guida está lá...

Não sabemos o que aconteceu. Ontem a encontramos presa em um lugar que não deveria estar presa. Era uma trilha estreita e ela simplesmente não conseguia levantar sua pata para a frente da outra. Guida é a nossa menina que sempre escolheu seguir os caminhos mais difíceis, esta dificuldade não era comum. Não sabemos porque sentiu que estava presa, mas a ajudamos sair, alargando um pouquinho o caminho com varas e a encorajamos com palavras, e, assim, saiu da trilha. Depois ela parecia se sentir presa no riacho, que é muito raso. Seu corpo parecia exausto, suas pernas entortavam ligeiramente de vez em quando. Usamos a retroescavadeira para ajudá-la a sair, quando percebemos que não conseguiria sozinha.

Durante o processo conseguiu dar um ou dois passos e se apoiou sobre um monte de terra para descansar um pouco, para mais um ou dois passos e quando, finalmente, conseguiu sair, se deitou. Aplicamos soro intravenoso, a medicamos, tiramos amostras de sangue com a esperança de que descansasse um pouco. Mas após algum tempo, sua respiração começou a oscilar até que simplesmente parou de respirar. Ela se foi silenciosamente e em paz. Não esperávamos que ela se fosse.

Impossível imaginar que Guida não estará mais lá quando formos cuidar das meninas. Muito difícil aceitar que seus trombeteios infantis do dia anterior foram os últimos que ouvimos.

É devastador olhar para Maia e saber que ela perdeu sua melhor amiga, somente após alguns anos de tê-la realmente encontrado. É impossível olhar para Maia e não chorar.
Sabemos que tudo isso é parte da jornada, a ajudará a se abrir mais para os outros elefantes e crescerá emocionalmente. Já vimos isso acontecer antes. Mas neste momento, é muito mais fácil enxergar um elefante que de vez em quando luta com suas emoções, tendo que lidar com uma das mais devastadoras perdas.

Um Santuário ajuda os elefantes a se abrir emocionalmente para que lindas mudanças ocorram, mas também os torna vulneráveis a dor.

Esperamos que Maia se abra e permita que Rana a ajude com suas lutas e mostre que ela tem outra amiga em quem se apoiar. Sabemos quantos de vocês se apaixonaram por ela e a ajudaram a sentir um amor incondicional que, até então, não conhecia...

Guida, siga sua viagem para o céu dos elefantes, em paz.
Você se foi de mansinho, assim como quando chegou para enfeitar nossas vidas com sua alegria e sua luz.

Nos perdoe por não termos te encontrado antes, seu tempo aqui foi curto demais.

Você é parte deste Santuário, de cada pedacinho desta terra, terra dos elefantes!

Vai... mas te imploramos, nunca se esqueça de nós!
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