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Sexta-feira, 19 de abril de 2024

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Negras, brancas, indígenas, campesinas: Veja fotos das mulheres que se uniram no 8 de março em Cuiabá

Foto: Rogério Florentino Pereira/Olhar Direto

Negras, brancas, indígenas, campesinas: Veja fotos das mulheres que se uniram no 8 de março em Cuiabá
“Vem, mulheres se juntar, lutar contra a reforma da previdência / Vem mulheres, se juntar, lutar contra opressores e suas armas / Vem, mulheres, se juntar, lutar pelos direitos das pretas quilombolas / Vem mulheres se juntar, lutar com as companheiras campesinas / Vem mulheres, se juntar, lutar pelas parentes indígenas / Vem mulheres se juntar lutar por nossas vidas e contra a violência / Vem mulheres se juntar pra construirmos juntas um projeto popular”. Essa era a letra da música entoada pela cantora Gê Lacerda na tarde da última sexta-feira (8), durante o ato da ‘Greve Geral de Mulheres’, em Cuiabá. Na ocasião, diferentes mulheres, com suas diferentes pautas e sua pluralidade, levaram os anseios à Praça Alencastro.

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O ato foi organizado por diferentes coletivos, e tinha como pautas principais a luta contra a reforma da previdência, contra a reforma trabalhista, a PEC 95, a flexibilização da posse de armas, o feminicídio, e a favor do direito ao corpo e da demarcação de terras indígenas. Outra pauta importante foi a exigência de explicação e punição para o assassinato de Marielle Franco. Marcado para as 15h, o ato contou com diversas apresentações culturais e, após as 17h, abriu-se uma plenária onde cada uma que quisesse poderia subir ao palco e discutir as pautas.



Uma das organizadoras foi a peruana Glória Maria Munhoz. Assistente social, ela faz parte do coletivo “Mulheres na Luta” há três anos, e chama atenção para direito de autonomia das mulheres e para os altos índices de feminicídio. “Em primeiro lugar, esta a urgência de estarmos questionando toda a violência que se aplica as mulheres. Todo o sofrimento, toda a perca de direitos. Juntando nossas vozes, a vida das mulheres esta sendo ameaçada constantemente (...) É um lembrete para falar basta. Basta de violência, de tanta exploração, de discriminação, somos diferentes, mas não somos desiguais. E lembrar isso, que a vida das mulheres tem que ser plena, escolhendo ter um companheiro, sendo qualquer for sua orientação sexual, se quer ou não ter filhos. É o direito aos nossos corpos e liberdade poder andar qualquer hora na rua sem sentir medo”, diz.

Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto

Gê Lacerda, professora, musicista, compositora, cantora e terapeuta que entoou uma das canções junto ao ‘Bloco das Mulheres’, chamou a atenção para a causa das mulheres negras. “Nós, mulheres negras, além de sofrer a violência contra as mulheres, ainda temos o olhar racista pra cima da gente. Precisamos nos organizar, nos unir mais. Fazer uma luta conjunta. Porque isso fortalece. Só juntas que vamos nos fortalecer”, afirmou.

Segundo ela, que é ativista do movimento negro e de mulheres no dia a dia, a presença na praça é importante também para despertar o interesse de outras mulheres. “Para atingir aquelas mulheres que a gente não consegue nos nossos espaços estar despertando o olhar crítico. Aqui a gente pega pelo menos os que estão vindo e indo pro trabalho, que veem que existe luta, existem mulheres na luta, e que elas podem se juntar, se achegar”.

A campesina Evani da Silva, 52, integrante do Movimento Sem Terra, foi ao encontro junto a outras 50 mulheres de seu acampamento, que fica em Jaciara. Ela afirmou que já está ‘acostumada’ a lutar por seus direitos e por igualdade para todos, e que, além de buscar “um pedacinho de terra pra sobrevivência”, ainda precisa lutar pelos direitos das mulheres. “Como mulheres temos que lutar juntas. Temos que nos unir para ter forças”.

Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto

Para Naine Terena (foto a direita), professora, o ato é importante para marcar as pautas “que são as urgências que as mulheres têm pra reivindicar em termos de políticas públicas, de atendimento, de respeito. Não é um momento de festa pra mim. É um momento de marcar a resistência, marcar a necessidades que precisam urgentemente ser atendidas e ser cumpridas”, disse.

Ela ainda lembrou da urgência da demarcação de terras indígenas. “A pauta essencial das mulheres indígenas é a demarcação de terras hoje. Sem terra não existe uma outra pauta. Porque não existe uma existência do ser indígena, tanto do homem quanto da mulher. Essa é a pauta urgente e o respeito às leis que regem a vida indígena no Brasil hoje, que não está sendo respeitada”.

Para a estudante de dezesseis anos Laura Caparelli, a principal pauta é ter o direito de ir e vir sem medo. “Eu estava conversando sobre isso com meu professor de filosofia hoje na aula e ele falando que a gente tem liberdade, mas depende. A gente tem liberdade de andar na rua só que não tem ao mesmo tempo, porque a gente está andando com medo e eu acho que a gente deveria lutar por isso, lutar para não ter medo”. Esta foi a primeira vez que ela foi a um ato de 8 de março.

A procuradora e presidente do conselho estadual de direitos da mulher, Glaucia Amaral, alerta para os dados preocupantes de feminicídio em Mato Grosso. Só no ano passado, 38 casos foram registrados. De acordo com ela, a segurança pública se tornou uma das principais pautas do conselho.

“O conselho da mulher de Mato Grosso está trabalhando em quatro frentes primordiais, junto com a Secretaria do Estado de Educação, para inserção como matéria transversal da questão da violência doméstica, junto a Secretaria de Segurança Pública, pra que tenhamos a delegacia 24h, a patrulha Maria da Penha, aperfeiçoarmos as instituições de segurança pública, já que Mato Grosso está batendo recordes de violência”.

Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto

Outra pauta que a procuradora traz é a de acesso a creches para que mulheres possam trabalhar, além de saúde feminina, sob os altos indicies de câncer de mama, por exemplo. “estamos juntos aos municípios para que viabilizem creches, berçários públicos, porque as mulheres precisam trabalhar, precisam ter liberdade financeira. Elas hoje são chefes de família e são elas que cuidam dos filhos”, explica.

Agora, as mulheres organizam um novo ato para o próximo dia 14 de março, quinta-feira, data em que se completa um ano do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson. Os responsáveis ainda não foram encontrados.
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