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Sexta-feira, 19 de abril de 2024

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Arte em madeira

Casal busca resgatar os valores da infância construindo casinhas de bonecas há mais de 20 anos

Foto: Rogério Florentino/ Olhar Direto

Casal busca resgatar os valores da infância construindo casinhas de bonecas há mais de 20 anos
Debora Carvalho,  de 56 anos,  e Eraldo Fauth,  de 60,  são casados há 35 anos e  ganham a vida fabricando e vendendo brinquedos de madeira e casinhas de boneca há 21 anos,  em Cuiabá. Com três filhas, que cresceram nesse ambiente lúdico, Débora lamenta  perceber que a infância está cada vez mais esquecida. O trabalho que o casal paranaense desenvolve, busca também, o resgate da infância.

"As meninas hoje não querem mais brincar de boneca, as vidas corridas dos pais fazem com que eles queiram que os filhos cresçam rápido e isso é muito ruim, as escolas mais caras de Cuiabá são aquelas que ensinam as crianças a brincar, a mexer na terra, porque isso é muito importante, não se pode pular essa etapa”, afirma.

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Ao Olhar Conceito, o casal contou que se conheceu no Paraná, onde o pai do Eraldo mantinha  uma fábrica de brinquedos de madeira. Débora relembra que  revendo um álbum de família enquanto ainda namoravam Eraldo reconheceu os brinquedos de Débora como sendo feitos pelo pai dele. 

Na época em que se casaram Eraldo fabricava “calhambeques” de madeira na fábrica do pai e eles viajavam para Foz do Iguaçu para vender as peças. Conta que vendiam  cerca de 50 a 60 calhambeques. “Eu sempre acompanhei ele, não fui estudar, fazer nenhum curso porque eu preferi ficar ao lado dele e ajudar, logo depois nasceu a minha primeira filha, então ficou ainda mais difícil. Hoje: são três filhas. Uma é doula, outra dançarina e a mais nova esta se formando em Biologia.  Nenhuma das três pensa em seguir a profissão do pai, não tive nenhum filho homem que pudesse se interessar em seguir com a fábrica”, lamenta.



Eraldo trabalhou muitos anos como motorista em Cuiabá mas nunca perdeu o sonho de voltar a fazer brinquedos. Doze anos depois de ter vindo para a cidade surgiu a oportunidade de realizar esse sonho. Uma amiga do casal que sabia da habilidade de Eraldo com madeira pediu que ele fizesse uma casinha para a filha dela -  na época sem dinheiro para comprar os materiais e equipamentos eles decidiram conversar com alguns amigos que aceitaram emprestar o dinheiro - e acabaram se tornando "padrinhos" do empreendimento.



Eraldo projetou e fez a casinha. Com o material que sobrou  ele fez alguns pequenos móveis. Débora lembra que embora eles estivem realizados por ter conseguido terminar o projeto do jeito que a amiga queria não conseguiram vendê-lo. “Terminado tudo nós fomos até essa minha amiga e falamos olha a casinha está pronta e ela disse que não tinha dinheiro. Bateu o desespero, nós colocamos a casinha aqui no canteiro, com uma luminária dentro, então aquilo de noite ficava lindo, as pessoas passavam aqui e paravam para ver o que era, desciam até do ônibus para ver, muita gente elogiava mas não comprava e nós precisávamos era vender”, lembra.


 
Quando eles finalmente conseguiram vender a casinha tiveram a ideia de pegar o dinheiro para fazer mais três, novamente colocando-as  expostas no canteiro da avenida Miguel Sutil. Na sequência,  fizeram uma cerca e algumas peças decorativas . O 'cenário' - mesmo improvisado -  acabou atraindo vários clientes e em uma semana eles venderam outras sete casinhas até hoje.

Em 2016 o casal passou por um grande susto quando um carro desgovernado atingiu uma das casinhas e alguns móveis que ficavam expostos no canteiro. “O prejuízo material foi grande, mas graças a Deus o cara não morreu, nós vimos que já era a hora mesmo de sair de lá e esse galpão estava alugando, nós conhecíamos o dono então resolvemos montar aqui e já estamos há  três anos, mas no total já são 21 anos que trabalhamos com isso”. Nesses anos de história com o artesanato eles mudaram de endereço algumas vezes mas sempre na mesma região da Avenida Miguel Sutil.



Debora lembra com felicidade as histórias que já viu e ouviu nesses anos todos de loja “Nós temos muitas boas histórias, tem a mãe que brincou de casinha e hoje vem comprar para a filha, a avó que não tinha dinheiro para comprar para a filha, mas que hoje vem comprar para os netos, vai passando de geração e a gente fica maravilhado com isso porque ouvimos muito essas histórias aqui”.

Tem uma historia que gosto muito que é de uma senhora de 70 anos que veio comprar uma casinha, ela contou que sempre quis ter, mas nunca tinha conseguido juntar dinheiro para comprar então depois de tanto tempo ela veio aqui e ficou toda feliz por ter conseguido realizar o sonho dela de ter uma dessas casinhas”, relembra Eraldo



Com o aumento nas vendas apareceram outras pessoas que viram no sucesso do casal uma oportunidade de ganhar dinheiro, “No início tinha sempre alguém querendo copiar e vendia falando que era feito por nós, mas eu digo assim quem cria não copia, porque você pode até ter a ideia em cima de algo que você já viu, mas você põe o seu toque, artesanato é isso, é pegar qualquer produto e dele você por o teu toque e fazer aquilo virar alguma coisa, mas não fazer a replica. Muita gente faz isso, não tem o dom, só visa o dinheiro então não tem como ter sucesso assim. Todo mundo nasceu com um dom e o teu dom vira um talento, quando a pessoa descobre o dom dela pode virar uma profissão, como foi o nosso caso”.



Hoje a maior dificuldade que eles encontram é a desvalorização do artesanato, muitas pessoas reclamam do preço e pedem para fazer de outro material para baratear o custo, mas Eraldo relata que as peças são difíceis de fazer, são  cortadas, lixadas e pintadas uma a uma, com tinta de qualidade para aguentar sol e chuva, o trabalho manual faz com que a peça se torne praticamente exclusiva pois no trabalho manual uma peça nunca sai igual a outra. Ele ja recebeu ofertas para fazer móveis planejados mas está feliz e realizado trabalhando com a fabricação de brinquedos.

Para quem tiver interesse em conhecer o trabalho e encomendar as peças a loja está localizada na Avenida Miguel Sutil número 4949, em frente a um supermercado, o telefone para contato é (65) 99622-3965 ou através da página no Facebook
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