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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Série de TV de Amauri Tangará sobre as lendas do Pantanal começa a ser gravada na próxima segunda

Foto: Olhar Conceito

Amauri Tangará e o cavalo feito por Raimundo Rodrigues

Amauri Tangará e o cavalo feito por Raimundo Rodrigues

Começam na próxima segunda-feira (10) as gravações da série de televisão ‘O Pantanal e Outros Bichos’, dirigida por Amauri Tangará. Recém-premiada pelo Fundo setorial do Audiovisual (FSA/BRDE /ANCINE), a série contém vinte e seis capítulos e conta a história de um casal (um carioca e uma mato-grossense) que vivem no Pantanal e recebem os netos em sua fazenda. Quando percebem que as crianças estão muito ligadas em tecnologia (e ficam ligadas nos celulares o dia todo), os avós resolvem ajudá-los a conhecer o mundo mágico do Pantanal, e aí surgem na história os diversos personagens mitológicos da região, como o ‘Pé de Garrafa’, a ‘Mãe do Morro’ e a ‘Porca dos sete leitões’. O público-alvo é infanto-juvenil. 

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‘O Pantanal e outros bichos’ é uma realização da produtora ‘Cia D’Artes Brasil’, e seu elenco é formado 90% por atores mato-grossenses. Tati Mendes, produtora geral da série, afirmou na tarde da última quarta (5), no lançamento oficial do produto, que oito companhias de teatro foram convidadas a participar, dentre elas o Grupo Tibanaré, a Cia Faces de Teatro (de Primavera do Leste) e o In-Próprio Coletivo.


Tati Mendes (Foto: Olhar Conceito)

“Temos uma equipe totalmente eclética. Tem gente do Rio, da Bahia, de Portugal, de Cuiabá. De Poconé temos bastante gente. Aqui [no lançamento] nós temos poucos, mas tem bastante gente trabalhando, cabeleireiros, costureiras, pessoal do elenco, esse pessoal todo que está aqui de Poconé fez duas oficinas conosco, então nós estamos querendo plantar uma semente, como foi feito, aliás, em Primavera do Leste, onde a gente jogou a primeira sementinha do cinema, e hoje está a equipe inteira aqui”, afirmou a produtora.

Marcio Nei foi um destes alunos de Poconé que foi chamado para atuar na série, em que ele interpreta o escravo da baronesa. “Já fiz dois trabalhos com o Amauri aqui graças ao Sesc, oficina de cinema. Fiz ‘Amauri Tangará – o plano’ e ‘Amauri Tangará – atitude’ e agora surgiu esse convite, e estou muito feliz de trabalhar com esse diretor e com a Tati Mendes, que é o oxigênio da gravação. Estou muito feliz de estar nesse elenco maravilhoso, na minha cidade especial, Poconé, e poder realizar esse presente que Deus me deu”, disse ao Olhar Conceito.


Marcio Nei, ator poconeano (Foto: Olhar Conceito)

Além de contemplar os artistas locais, a produção da série também fez questão de chamar artistas nacionais renomados, como é o caso do cineasta Geraldo Moraes e o ator Roberto Bonfim. Este, que já participou de mais de 50 novelas, dezenas de peças teatrais e 44 longas-metragens, vai interpretar o avô em ‘O Pantanal e Outros Bichos’.

“Eu faço o avô, o velho fazendeiro. Ele é um pantaneiro, na verdade ele não é do Pantanal, ele é do Rio de Janeiro, mas casou com uma pantaneira e comprou uma fazenda e passou a ser um fazendeiro da região. E traz os netos. A história, na verdade, gira em torno desses netos que são informatizados, vidrados no celular, e que vem visitar o avô e começam a largar a tecnologia visitando esse mundo fantástico”, conta. “Fiquei maravilhado exatamente por isso. Eu já fui folclorista, mas este mundo da fantasia, esses entes, essas entidades fantasiosas do Pantanal eu não conhecia. Eu conheço do nordeste, conheço do Sul... mas a ‘Mãe do Morro’, o ‘Pé de Garrafa’, são personagens que eu não conhecia. Quando eu comecei a ler eu falei, mas como é que eu não conhecia? Então me entusiasma nesse sentido. Primeiro que revela este mundo magnífico do Pantanal, um outro mundo, não só pra mim. Você imagina, eu fui folclorista. Se eu não conheço, imagina o resto do Brasil?”.


Roberto Bonfim (Foto: Olhar Conceito)

Outro convidado especial é o artista plástico Raimundo Rodrigues, responsável pela cenografia de produções como ‘Hoje é dia de Maria’, ‘A Pedra do Reino’, ‘Capitu’ e outros. Trabalhando com materiais reciclados, ele assina tanto a cenografia da série quanto os figurinos e a direção de arte. “Eu achei maravilhoso [o projeto] principalmente porque eu só aceito trabalhar com pessoas que se identificam com o meu trabalho. Porque, na verdade, o que eu faço é continuar o meu trabalho como artista plástico, eu não preciso mudar a minha forma de linguagem. O que eu faço é adequar essas peças, o que eu crio para a dramaturgia exigida”, conta. “A minha identidade vai aparecer muito mais no mundo mágico, que eu uso muita lata. O cavalo é de lata, a sereia é de lata, de caixas de leite na parte metálica, tudo eu remeto a lata, é uma linguagem que é reconhecida dentro do meu trabalho”.

Para Raimundo, o importante não é usar a reciclagem pela reciclagem, mas sim valorizar a energia dos produtos. “Eu falo sempre que a reciclagem é um princípio humano. Desde que o homem é homem ele recicla. Quando ele transforma uma pedra em uma ponta de lança, ele já reciclou. Eu acho que é uma questão de sobrevivência. Eu gosto da questão dos materiais, pra mim é material, eu uso como matéria prima. O que eu gosto é de ter a energia das coisas usadas. Se aquilo foi usado por alguém, utilizado pra construir uma casa, pra cavar um buraco, pra erguer outra coisa, que seja o que for, e aquilo não tem mais aquela função, eu gosto de transformar e dar uma nova vida a elas”.


Raimundo Rodrigues (Foto: Olhar Conceito)

A ideia da reciclagem está, também, associada a outro ponto importante da série, a sustentabilidade. “Quem vem para Poconé hoje em dia, e conheceu antes, fica extremamente assustado. Porque a única coisa que se vê são os vulcões de minério por conta do garimpo”, lamenta Tati. Para ela, o apoio da própria Prefeitura da cidade, por meio da Secretaria de Turismo e da Secretaria de Meio Ambiente, foi importante para chamar a atenção também para os problemas ecológicos.

Novo formato

O diretor da série, Amauri Tangará, tem mais de vinte e cinco anos de experiência, com diversos longas e curtas no currículo, além de uma extensa estrada no meio teatral. Com série de TV, no entanto, é a primeira vez que ele trabalha.

“Você fazer uma série de 26 capítulos, onde você tem que ter uma preocupação muito grande com o fio condutor da historia, de prender o espectador, criar situações pra que ele queira continuar vendo esses capítulos, tudo isso foi uma estreia pra mim. Eu cheguei a fazer até uma série no Araguaia de cinco capítulos, mas como era uma série documental era diferente, cada capítulo era temático, então não tinha problema nenhum. Mas essa não, essa é uma história só”, afirma. “Você imagina, ela vale por quatro longas-metragens! São quatro longas-metragens numa história só, então foi um desafio por isso”.

Amauri também afirma que outra novidade foi colocar o Pantanal como pano de fundo da história, e inserir os mitos no roteiro. “E depois também a forma como nós encontramos de poder misturar o real e o irreal, a fantasia e a realidade, que se cruzam, que estão juntos. Então isso tudo ajuda você a desenvolver um tema, te dá mais facilidade, porque como você mistura as duas coisas, você não sabe mais que momento está com o real e o irreal. Foi muito legal transitar por esses dois lados, recuperar alguns mitos que são daqui”.


Amauri Tangará (Foto: Olhar Conceito)

A ideia inicial da história veio do filho de Amauri, Luck P. Mamute, que é escritor. Tudo começou há cerca de dois anos. “Quando o Amauri Tangará chegou pra mim e falou vamos fazer uma série pra crianças, com uma temática diferente, eu olhei pro lado e vi minha filha e minhas três sobrinhas com o celular na cara, e a gente em Chapada dos Guimarães. E eu falei: alguma coisa está errada, vamos pegar essa molecada e colocar num universo com essa tecnologia, mas que eles tenham outras possibilidades. E foi mais ou menos daí que nasceu o ‘Pantanal e outros bichos’, pra molecada sair da frente do celular e ver tudo o que a gente tem no mundo. E o que está dentro da série, nada mais é do que possibilidades, porque eu duvido alguém falar que não existe”.

A partir disso, Luck escrevia as sinopses e Amauri roteirizava. “Na verdade ele também me mandou algumas coisas já em roteiro, eu fui acrescentando outras, então foi tudo feito a quatro mãos”, completa o diretor.

As gravações da série começam na próxima segunda-feira, e seguem até o final de agosto. À partir de setembro, começa a pós-produção, e a ideia é que o produto esteja pronto em janeiro ou fevereiro de 2018. “Nos primeiros seis meses depois de pronta ela vai ficar à disposição de todas as TVs públicas do Brasil, que são 180 canais. Seria uma forma de pagamento do dinheiro que a gente pegou emprestado. Porque as pessoas acham que este é um dinheiro público, mas não é. Esse é um dinheiro de um fundo que a gente vai ter que devolver. A gente pega esse dinheiro, faz o filme, depois vai ter que devolver para que continuem gerando outros projetos. Esses primeiros seis meses serão como se a gente estivesse pagando juros disso. Depois vai ficar à disposição pra gente vender para qualquer canal que quiser”, explica o diretor.

Transmidiação

Para além dos vinte e seis capítulos do ‘Pantanal e Outros Bichos’, já existe um plano para que a série se transporte para outras plataformas. Por meio de uma equipe de estudantes de publicidade do Univag, por exemplo, está em desenvolvimento um jogo, chamado ‘OPYOB’, em que os avatares são os personagens da história.

“[A ideia] Partiu de uma proposta da nossa professora Carolina Araujo, que propôs da gente trabalhar com a identidade visual da série de TV, e durante o briefing desse projeto a Tati [Mendes] mencionou que haveria essa possibilidade da transmídia. Como a gente já tinha o nosso game ‘Recitron’ premiado no itnercom, a gente propôs trabalhar junto com isso”, conta Jonathan Gabriel, um dos estudantes. “Esse game é todo inspirado na própria série, os avatares são os personagens Isis e João, que vão junto com o curupira enfrentar alguns desafios num território pantaneiro e anexos, como o cerrado e as florestas, na tentativa de lutar contra essa questão ambiental, seja descarte irregular de lixo, queimada, e outras vertentes”.


Alunos do Univag, responsáveis pelo game e pela identidade visual da série (Foto: Olhar Conceito)

Além de Jonatham, participam da produção também Gabriel Legramante, Erick Gab, Reginaldo Pinto, Pedro Henrique Lopes e os professores Carol Araujo e Caique Loureiro. “Pra nós enquanto formandos é uma grande oportunidade, porque a gente está agregando experiência no nosso currículo, além de estar envolvido em uma grande equipe, e isso a gente acredita que facilita a abertura de novas portas”, comenta Jonatham. Atualmente, os alunos já inscreveram o projeto do game em um edital da Ancine, e esperam conseguir a verba necessária para desenvolvê-lo.

Os produtores da série também estudam a produção de um longa-metragem, um livro de receitas pantaneitas do ‘Tio Berê’ e outras temporadas da série: ‘O Cerrado e Outros Bichos’, ‘A Floresta e Outros Bichos’ e ‘A Cidade e Outros Bichos’. 
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