A condescendência com que se tratam certas evidências de violências contra mulher, negros, adolescentes e outras minorias torna a nós muitas vezes praticamente cúmplices de crimes cometidos e outros por vir. É o caso do ex-BBB Laércio de Souza, preso na manhã de hoje, segunda, dia 16, em Curitiba, acusado de fornecer bebidas a adolescentes e crime de estupro de vulnerável.

Ao longo de sua participação no programa, Laércio mais de uma vez se declarou um “efebófilo” – alguém que sente atração sexual por adolescentes. Conforme crescia a rejeição contra ele dentro e fora da casa, diversos relatos apontando abusos em potencial e relações com menores começaram a surgir. Como se não bastasse, Laércio curtia páginas de supremacia branca e uso de armas em redes sociais.

As acusações não fizeram com que a Rede Globo o tirasse do ar, colocando a audiência acima da lei e da vida dessas meninas abusadas. Laércio acabou eliminado do programa. Em um país machista como o Brasil, a vítima é tratada como culpada até que se prove muitas vezes o contrário – e o abusador muitas vezes como inocente, mesmo que ele tenha abertamente dito em rede nacional sua preferência.

A prisão de Laércio se deu a partir do depoimento de uma jovem de 17 anos, que manteve com ele uma relação em 2012, quando ela tinha somente 13 anos. Imagens e informações de redes sociais comprovaram o relato. As investigações começaram a partir das dezenas de acusações que surgiram com a aparição de Laércio no programa.

A internet se torna o reduto dos absurdos quando uma acusação como essa vem a tona. Quase que invariavelmente surgem manadas de boçais para questionar a veracidade das histórias ou, pior, para responsabilizar a própria vítima, mesmo que as evidências estejam na cara de todos e as investigações já tenham apontado um culpado – os comentários aqui nessa matéria possivelmente servirão como exemplo. E assim seguimos, cúmplices de crimes horrendos, de mãos dadas na direção da barbárie.

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